quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O AVANÇO DA DITADURA DO AÇÚCAR

     A humanidade da Idade Média para trás não consumia açúcar. O açúcar entrou na mesa para valer a partir do século XVI depois que o açúcar passou a ser produzido em larga escala no Novo Mundo recém-descoberto por portugueses e espanhóis. Durante 100 mil anos, portanto, a humanidade usava uma dieta isenta de açúcar. Há dez mil anos, com a revolução agrícola, passou a consumir grãos. E passou a ser consumidora de açúcar há pouco mais de 500 anos. A entrada em cena do açúcar se deu de uma maneira gradual. Primeiro o açúcar chegou à Europa como uma especiaria muito cara vinda do Oriente. No século XIV com o dinheiro utilizado para se comprar um quilo de açúcar na Inglaterra dava para se comprar dez cabeças de gado.

     Depois o açúcar começou a ser usado pelos boticários (os farmacêuticos de antigamente). Os árabes inventaram o xarope. No século XVI o açúcar colocou o pé na mesa à título de sobremesa. Agradou tanto que logo, logo ele pulou para a mesa propriamente dita. Gilberto Freyre em seu livro “Açúcar” registra: “A fartura de açúcar acirrou a tendência ao açucaramento da dieta dos portugueses e dos brasileiros”. Pois bem essa “tendência” ao açucaramento dura até hoje. Um estudo recente da Embrapa mostra a evolução do consumo de açúcar pelo brasileiro. Na década de 1930, o consumo médio por habitante era de 41 gramas por dia. Na década de 1950, foi para 82 gramas/dia. Nos anos setenta, eram 109 gramas diárias. Nos anos 1990, o consumo subiu para 136 gramas. A última medição da Embrapa é do ano 2000 e mostrou que o brasileiro consome até 150 gramas por dia. Nos dias de hoje, do ano de 2015 o brasileiro consome por ano em média mais de 60 quilos de açúcar ou mais de 164 gramas diárias "em média". A Organização Mundial de Saúde (OMS) gostaria que as pessoas consumissem de calorias do açúcar apenas 5% das calorias totais ingeridas diariamente. Para uma dieta de 2000 Kcal isso representa apenas 25 gramas de sacarose refinada por dia. Tem brasileiro  consumindo SETE ou OITO vezes mais açúcar que o recomendado pela OMS posto que o cálculo da Embrapa é para "consumo médio", e a OMS propõe um "teto de consumo"; mas não se faz nada por causa da força do lobby dos traficantes de açúcar. O Brasil consome apenas O DOBRO da quantidade de sal recomendada pela OMS e o Ministério da Saúde já tomou providências com a indústria de alimentos para solucionar o problema. A indústria está adicionando menos sal aos alimentos industrializados.

Malgrado esta realidade, a ditadura do açúcar continua avançando, o açucaramento da mesa continua de vento em popa. Não faz muito tempo as pizzas conhecidas eram: napolitana, mussarela, alice, portuguesa, quatro queijos, etc. Hoje já existe a asquerosa pizza doce. A pizza tradicional, salgada já fazia parte da ração açucarada ( a massa e o molho de tomate continham açúcar). A pizza doce é o fim da picada. Com as empadas a mesma coisa. Antes limitavam-se à palmito, camarão e galinha. Hoje as patogênicas empadas doces já estão aí: “romeu e julieta” (goiabada com queijo), chocolate, etc.

Anteontem vi no programa de Ana Maria Braga a apresentação de uma farofa doce. Uma farofa normal à qual acrescentava-se pêssego e/ou cereja em calda de açúcar. Com isso Ana Maria transformava a farofa de um alimento saudável num prato patogênico. Aliás Ana Maria Braga é uma competente promotora do avanço do açucaramento da dieta (e das doenças crônicas subsequentes). Já vi em seu programa um sujeito apresentando uma geleia de azeitonas. Num “concurso” de cachorros-quentes o vencedor foi o cara que acrescentou açúcar mascavo ao hot dog dele. Certa vez apresentou uma inovação à velha torta de bananas da vovó: encharcou-a de leite condensado. O máximo em termos dessa barbaridade, creio que foi uma porcaria apresentada por Ana Maria cujos ingredientes eram: biscoito recheado (30% açúcar), achocolatado (60% açúcar) e leite condensado(70% açúcar). E ainda teve a cara de pau de dizer que o doce poderia ter sabores. O biscoito recheado é que determinava o sabor: morango, chocolate, baunilha...
    Se a humanidade quiser se livrar das epidemias de cárie dentária, obesidade, doenças cardiovasculares, etc., terá que deter a expansão dessa ditadura e expulsar da mesa esse corpo estranho doce e nocivo.

2 comentários:

  1. Ótimo texto e bem esclarecedor. De certa forma, percebo que grande parte das vezes (se não todas) assim como o programa "Bem Estar" exalta mais a ingestão de remédios do que uma orientação realmente saudável o "Mais Você" realça a doença em sua grande amplitude, mais açúcar vai fazer 'mais você' ficar doente! Sim, de fato é algo muito abusivo. Açúcar só vicia, intoxica e mata, viver sem açúcar é aproveitar o lado 'doce' da vida, e não o contrário

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  2. Olá, Jaymes. Desculpe comentar tanto tempo depois. De fato Ana Maria Braga é uma doceira, ela é a Dona Benta do século XXI. Já produzi um texto colocando o programa dela como um problema de saúde pública. Você é uma pessoa esclarecida. Um abraço.

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