quinta-feira, 6 de junho de 2013

A VIDA COMO ELA É NO REGIME CAPITALISTA (OFF TOPIC)

Por ocasião do falecimento de Roberto Civita, a TV Globo divulgou em seus jornais trechos de fala do continuador da obra de Victor Civita. O conteúdo era uma defesa da iniciativa privada, da livre concorrência, da liberdade de imprensa e da propaganda, que eram apresentados como pressupostos da democracia. Um resumo do bla bla bla liberal.
Vejamos agora na realidade, a vida como ela é no regime capitalista. Uma imensa roubalheira organizada constituída de máfias setoriais e de segmentos, máfias legais e máfias informais.
A prefeitura do Rio de Janeiro, certamente aproveitando o clamor público desfavorável às vans por estes veículos com seus vidros escuros terem sido usados como estupródromos ambulantes, retirou de circulação as vans (começando pela Zona Sul). Os usuários tiveram que migrar para os ônibus (locus de estupros tanto quanto as vans). Por conta desse aumento de demanda, a prefeitura autorizou um aumento na frota de ônibus circulando pela cidade.
À despeito desse presente dado pela prefeitura aos donos de empresas de ônibus, o preço das passagens acabou de aumentar, de R$2,75 para R$2,95. Passagem de ônibus está tão cara que se uma família de quatro pessoas precisar tomar dois ônibus por dia (ida e volta para o trabalho ou a escola) um salário mínimo não é suficiente para cobrir essa despesa.
O insuspeito ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, fala eufemisticamente na existência de “empresas comensalistas”. O “comensalismo” é a relação entre o poder público e empresas privadas onde ambos saem de barriga cheia e o povo fica com fome.
Além desse aporte de dinheiro representado pela assimilação dos usuários das vans, as empresas de ônibus estão veiculando propaganda no serviço de TV oferecido aos passageiros. Nas telinhas de TV de alta definição já vi publicidade dos governos federal, estadual e municipal, além das grandes empresas privadas. Os donos de empresas de ônibus também “economizam” usando microônibus nos quais o motorista é explorado também como cobrador. Explorando a população do jeito que exploram os ônibus entraram na lógica orwelliana (1984) e carregam câmeras de filmar instaladas em três pontos do veículo. E a prefeitura está prometendo tornar obrigatório o uso de ar condicionado em toda a frota.
Uma pergunta que fica no ar por que o aumento de faturamento representado pelo fim das vans e pela propaganda exibida aos passageiros não são usados para diminuir o preço das tarifas?
Já disse em outra ocasião que o direito de ir e vir no mundo moderno não é o direito de andar a pé. Trabalho, escola, lazer tudo isso exige o uso de ônibus (pelo menos). Ônibus a rigor devia ser um serviço público gratuito para que o direito de ir e vir seja uma realidade.
No capitalismo é apenas mais uma atividade passível de exploração pelos magnatas do lucro e da corrupção.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

SERÁ QUE EU SALGUEI A SANTA CEIA ?

Na novela "Amor à vida" o doutor Felix, misto de viado e vilão, interpretado pelo ator Mateus Solano repete muito essa expressão: "Será que eu salguei a Santa Ceia?" tanto que já conseguiu acionar o meu desconfiômetro conspiracionista. A expressão clássica é "Será que eu joguei pedra na cruz".
Está me parecendo uma iniciativa dos traficantes de açúcar para queimar o filme do sal e livrar a cara do açúcar.
Vejam bem, o sal faz parte da Santa Ceia, ele está presente no pão. E se na Santa Ceia tiver carne e queijo, o sal lá estará.
Se alguém tivesse salgado a santa ceia, isso iria provocar sede nos apóstolos, eles beberiam mais água, depois dariam uma boa mijada e o problema estaria resolvido.
Agora imaginem se do doutor Felix tivesse açucarado a dieta do santo grupo, inclusive a Santa Ceia, introduzindo uma sobremesa de pudim de leite condensado por exemplo, ou colocando açúcar no vinho transformando-o num vinho "suave" ou, pior ainda "licoroso"; ou tivesse transformado o pão de sal dos apóstolos num pão doce. Isso iria provocar cárie dentária nos apóstolos, obesidade e doenças cardiovasculares. A expressão politicamente correta, portanto, é: "Será que eu coloquei açúcar na Santa Ceia?"

domingo, 2 de junho de 2013

O MUNDO ESCURO DE J. R. GUZZO
                              Por Fernando Carvalho autor de “Açúcar o perigo doce”

Em seu artigo na revista “Veja” de 24/04/2013, J. R. Guzzo afirma que no mundo kafkiano em que vivemos, qualquer pessoa pode ser considerada culpada de alguma coisa “mesmo que não saiba disso”. Segundo o colunista da “Veja” isso começou depois do desmoronamento da ideia geral que dividia o mundo em direita e esquerda.   O campo do “bem”, que se confundia com a esquerda, se fragmentou em movimentos que defendem ou condenam qualquer tipo de “causa” (da preservação das borboletas do Afeganistão ao desmonte de uma usina hidrelétrica na Amazônia).
E os “donos ou os militantes dessas causas”, ainda segundo Guzzo,  é que definem as noções de certo ou errado, bem ou mal, justo ou injusto e obrigam  todos a adotar uma postura necessariamente “correta” ou “incorreta” em relação às suas causas.
Os tradicionais valores morais como integridade, decência , gratidão, generosidade, cortesia, perderam importância. Por mais honrada que seja, uma pessoa poderá ser incriminada se não concordar com as bandeiras em voga, ser indiferente a elas, ou não saber que existem.
Para J. R. Guzzo tais movimentos possuem características de seitas de fanáticos. “Todas essas cruzadas se declaram proprietárias exclusivas do bem”. Os dirigentes e militantes dessas “causas” se julgam “moralmente superiores” e exigem que todos abram mão de seu direito de raciocinar e simplesmente concordem com eles. Para JRG está-se engendrando pouco a pouco “uma nova forma de totalitarismo”. Para ilustrar Guzzo lembra que Gisele Bundchen propõe uma “lei internacional” obrigando todas as mães de crianças pequenas a amamentar seus filhos. Para JRG isso é a manifestação de um “desejo de mandar no comportamento dos outros” e cita o psicanalista Contardo Calligaris segundo o qual Gisele quer apenas “afirmar e consolidar seu poder sobre nós”. Esse parágrafo sem querer respingou em mim que também defendo que seja proibida por lei a adição de açúcar aos alimentos com o objetivo de acabar com as epidemias de cárie, diabetes, obesidade, etc. “Ditador!” resmungarão J. R. Guzzo e Calligaris. Ditador não, ao contrário, eu quero acabar com a “ditadura do açúcar”, ou quando você entra num supermercado e compra um biscoito de “água e sal” e descobre que o bicho contém açúcar, você não está sendo vítima de uma ditadura que empurra açúcar goela abaixo da população?
 Um caso ilustrativo dessa realidade moderna que muito incomodou JRG, foi o fato de uma agência de propaganda ter feito um anúncio para a Vokswagen onde aparecia um gato preto como símbolo de azar. Até que grupos que defendem a causa dos gatos, “de qualquer cor”, pressionaram a empresa para que o comercial fosse retirado do ar. “Ganharam: a Volksvagen ficou com medo do movimento pró-gato e cancelou o anúncio”, lamenta JRG para quem a “pressão bruta” dos defensores dos gatos é da mesma natureza de uma ditadura que censura a imprensa, “o resultado é o mesmo: aquilo que deveria ter sido publicado não o foi”. Por falar nos defensores dos gatos, o pessoal já implicou com o clássico da literatura infantil que reza: “Atirei o pau no gato-tô, mas o gato-tô não morreu reu-reu”. Talvez esteja havendo exageros do pro-gato típicos da infância de todo movimento social. Mas que o menino da musiquinha é um sádico é. Queria ter matado o gato com apenas uma paulada.

Gostaria de defender aqui  uma opinião diferente da de J. R. Guzzo, e favorável aos defensores dos gatos pretos, das baleias e das borboletas do Afeganistão. Quando o mundo era dividido em direita e esquerda, ou seja entre capitalismo e socialismo, o mal era o capitalismo (exploração do homem pelo homem) e o bem o socialismo, pelo menos teoricamente, (uma sociedade igualitária sem ricos nem pobres). Ocorre que a defesa do socialismo no contexto do capitalismo aparecia como a defesa de uma “ideologia exótica”, a defesa de uma “sociedade alternativa”. O socialismo era “outra coisa” que tinha até marca e logotipo (a cor vermelha e a foice e o martelo). Uma organização (o partido) e os militantes. Com a dissolução da “utopia” socialista/comunista, as vítimas do capitalismo perderam sua “causa única” e dissolveram-se nas “mil causas” que tanto incomodam J. R. Guzzo.
Vamos ver agora o que isso tem de bom: Que aconteceria se as baleias ficassem a mercê dos grandes navios pesqueiros japoneses? Se os filhotes de focas e chinchilas ficassem a mercê de da indústria de moda? Se as terras dos índios ficassem a mercê de “agricultores” e “pecuaristas”? Os ursos pretos asiáticos à mercê dos caçadores? A mata atlântica, a Amazônia e o pantanal matogtossense a mercê dos usineiros de açúcar e álcool? Os papagaios e araras azuis a mercê dos contrabandistas de aves silvestres? As ervas medicinais da Amazônia a mercê do contrabando à serviço da indústria farmacêutica estrangeira? Se a indústria de armas ficassem a mercê daqueles que lucram com elas? As mulheres a mercê dos estupradores? As crianças a mercê dos pedófilos? Os gays a mercê dos homófobos? Pequenos agricultores sem-terra a mercê dos grandes proprietários rurais?

Segundo J.R. Guzzo essas causas “se multiplicam sem parar, não têm nenhuma conexão entre si”. Ledo engano, as forças do bem possuem uma motivação básica, são costuradas pela linha do Direito. A demarcação de terras indígenas; o direito de voto para as mulheres e menores de 16 anos; o direito das minorias; a acessibilidade para os portadores de necessidades especiais; a demarcação de áreas de proteção ambiental; a preocupação com a ecologia e a sustentabilidade; o direito dos animais, a proibição seletiva da caça e da pesca, etc., são um único e mesmo movimento que luta pelo direito de todos. Os judeus por exemplo, muito antes da atual explosão de “causas e movimentos”, nos anos 50 do século XX, por meio do advogado Fernando Levisky, deu início a uma “causa”: expurgar dos dicionários brasileiros os vocábulos com acepções pejorativas e ofensivas à dignidade das pessoas. O Dr. Levisky era judeu e não se conformava com os significados da palavra “judeu” e termos derivados como o de uso correntíssimo “judiar” constantes nos dicionários. O “movimento” não se limitava a reabilitar o vocábulo judeu, pretendia escoimar de significados pejorativos termos como negro, paulista, baiano, paraíba, galego, etc. A campanha de Fernando Levisky teve repercussão e gerou o livro do jornalista Queirós Junior, Vocábulos no banco dos réus.
J. R. Guzzo se incomoda com a constituição de movimentos e causas para defender as vítimas dessa sociedade injusta, excludente e alienante na qual vivemos de seus carrascos.
O fato é que temos motivos para comemorar, houve um grande avanço no movimento das “forças do bem”. Não mais se luta por uma “ideologia exótica”, uma “sociedade alternativa”, uma “utopia”. A luta é para transformar o mundo em que vivemos. Não mais se espera por uma revolução socialista redentora que nunca chegava. Trata-se agora de mobilizar toda a população por seus direitos e para ir corrigindo as distorções, algumas do tempo em que o país possuía escravos, mesmo. A polícia hoje praticamente já é dependente do Disk Denúncia, sem a ajuda da população das comunidades que estão sendo libertadas da influência de traficantes de drogas a polícia não teria alcançado as vitórias que alcançou.

 Isso é apenas o começo da história. Duas causas de importância fundamental é a que exige transparência das operações que envolvem dinheiro público, o objetivo é acabar com a corrupção. E a que propõe a democracia direta, a atual tecnologia da informação já permite isso, os eleitores podem votar os grandes temas tocando o dedo no seu smartphone. Técnicos legislativos se encarregam de redigir as leis. Deputados e senadores vão virar peças de museu. O objetivo final é a proibição da fabricação de armas atômicas, químicas e biológicas; a eliminação das diferenças nacionais, a adoção da solidariedade como método nas relações internacionais de modo que o resultado seja um mundo onde se possa viver em paz. Nada de “atirei o pau no gato”.
“BRASILEIRO É TÃO BONZINHO” (Kate Lira)
            Por Fernando Carvalho autor de “Açúcar o perigo doce”, editora Alaúde.
            E administrador deste blog.

            Na revista Veja de 20/04/2013, a escritora Lya Luft tratou da violência nossa de cada dia. Para quem não sabe o Brasil é um dos países mais violentos do mundo, aqui morre muito mais gente vítimas de armas de fogo que na Síria, atualmente em guerra civil. Lya chamou a atenção para a epidemia de violência, os arrastões nos restaurantes de São Paulo (no Rio é em túneis e engarrafamentos), a onda de violência que invade nossas casas, apartamentos e sítios. E a exuberância irracional da violência: menores de idade que já saem de casa “com vontade de matar”. E não só matam: estupram, violentam, chacinam inocentes. “O crime se tornou banal, a vida vale quase nada” arremata Lya. Jovens assaltantes atearam fogo a uma dentista porque ela não tinha dinheiro.
            Infelizmente o diagnóstico de Lya é parcial, focaliza apenas a violência dirigida à classe média que diante da violência se esconde atrás das grades que cercam os edifícios onde moram, dos arames farpados e cercas eletrificadas que adornam os muros altos que cercam suas propriedades e dos carros blindados.
            No que diz respeito à violência brasileira, o buraco é mais embaixo. A meu ver, a violência que respinga na classe média é decorrência da que se abate sobre as classes subalternas. O fogo que imolou a dentista que não tinha dinheiro para os assaltantes é o mesmo que esturricou o índio Galdino de Jesus em Brasília, fogo colocado por jovens de classe média, um deles filho de um juiz de direito. É o mesmo fogo que carboniza mendigos e habitantes da rua Brasil afora. Violência que tem até um lado “mudo”, a prefeitura do Rio de Janeiro retirou os bancos dos pontos de ônibus e não tem colocado bancos nas praças novas ou nas que são restauradas. Mendigos e moradores de rua não possuem o direito nem de descansar ou dormir num banco de praça. Essa violência silenciosa (que respinga nos idosos que ficaram sem ter onde sentar) não seria um convite à violência gritante contra os pobres?
            Lya Luft reclama contra a responsabilidade criminal aplicável apenas após dezoito anos completos e lembra que em países civilizados como Canadá e Holanda é de doze anos. Reclama de não poder chamar de “assassinos” esses pimpolhos de 15 anos. “Jovens monstros, assassinos frios, sem remorso, drogados ou simplesmente psicopatas (que) saem para matar e depois vão beber no bar, jogar na lan house, curtir o Facebook, com cara de bons meninos”. E faz um desabafo dramático: “Hoje a população, apavorada, está nas mãos de criminosos”. E conclui quase clamando por uma solução, quase exortando as autoridades a apresentarem uma solução: “Estamos indefesos e apavorados, nas mãos do acaso. Até quando?”.
            Lya há algum tempo se indispôs com os ecologistas por causa das baleias, pelo fato dela dizer que se emocionava com gente e não com os enormes mamíferos dos mares. Lya também durante o plebiscito do desarmamento votou favoravelmente ao comércio de armas. Desses precedentes concluí que entre gente e bichos ela prefere gente, mas entre gente e a propriedade privada ela, pequeno-burguesa, prefere a propriedade.
            É lamentável que Lya Luft esteja tão obnubilada pelo medo que toma conta da classe média. Não se pode colocar no mesmo saco assassinos, drogados e psicopatas. De nada vai adiantar encher as cadeias com meninos de 12 anos.
            Lya Luft não escreveu nem uma linha sobre o caldo de cultura que alimenta a violência brasileira, a moldura social na qual se move o povo brasileiro, fatores que levam uma mulher a jogar um bebê no lixo. E os sobreviventes são empurrados pela vida para a cracolândia.

            O Brasil é uma fábrica de doentes e marginais. Se nossa infância e juventude fossem educadas com base numa paidéia no sentido grego antigo e alimentadas com comida em vez de uma ração açucarada, a pressão por hospitais e médicos, presídios e policiais, seria menor.